A rigor não poderíamos nos limitar a Apple, Google e Amazon, mas elas representam bem uma nova geração de empresas que ocupam a liderança em praticamente todos os rankings, incluindo a recente pesquisa divulgada pela Interbrands que coloca a Apple e Google como marcas mais valiosas desbancando pela primeira vez a Coca-Cola desde que esse estudo foi implantado em 2000. Apple, Google e Amazon foram alçadas ao topo com algo em comum, que poderíamos resumir como sendo a preocupação com a experiênciados usuários, clientes ou parceiros.
Esta experiência é algo que envolve questões como design, usabilidade, arquitetura da informação, psicologia, emoção e não se limita a empresas de tecnologia, pode e deve ser entendida e aplicada em qualquer empresa e em qualquer carreira profissional.
A experiência é algo subjetivo, difícil de se medir, é o resultado emocional de um contato pontual com você ou sua empresa. A todo momento que seu parceiro, cliente ou usuário do seu produto ou serviço tiver um contato com o seu produto ou serviço, o resultado irá nortear a tomada de decisões futuras a seu respeito e criará a percepção que ele terá da sua empresa e, consequentemente, sua fidelidade. Não importa se é via e-mail, site, e-mail marketing, telefone ou presencialmente, todo contato leva a uma experiência. Um exemplo: um e-mail mal escrito ou mal formatado, um formulário mal formatado, um texto desalinhado, um site mal desenhado, tudo isso gera uma experiência negativa e contribui para o todo.
Essa necessidade de postura mais preocupada com subjetividades tem dado um nó na cabeça de técnicos, engenheiros, analistas, desenvolvedores e empresas mais tradicionais, que sempre se preocuparam apenas com o lado prático e com as funcionalidades dos seus produtos e agora percebem a necessidade de incorporar essa preocupação com a percepção de seus usuários.
Tomando a Apple como exemplo, vemos uma clara preocupação em, para fornecer uma boa experiência, controlar todo o ecossistema que envolve seus produtos. É uma forma muito radical, mas parece ser o mundo ideal. Isso envolve tudo, hardware, software, loja de aplicativos, aprovação de aplicativos de terceiros, lojas físicas, atendimento, garantia de produtos. Engana-se quem acredita que o sucesso do iPhone, por exemplo, seja apenas devido a funcionalidades do aparelho. A experiência com os aplicativos, compra, processo de atualizações, loja de músicas, facilidade de uso, desempenho, entre outros, contribuem para um forte ecossistema que envolve o cliente e cria uma percepção dos produtos, que vai muito além do dispositivo.
A Amazon ficou conhecida por facilitar a vida de quem desejava comprar livros pela internet, tornou-se unanimidade na venda de dispositivos de leitores e e-books com um clique. É positivamente viciante ler e comprar livros a partir dos seus Kindles. Após essa fase, expandiu seus princípios para a venda de vários produtos pela Internet se tornando um grande portal de eCommerce. Vemos em toda experiência que temos com a Amazon, desde a navegação no site até a logística da entrega de produtos, uma clara preocupação em facilitar nossa vida e criar uma vontade enorme de voltar rapidamente a repetir a dose.
Essa vivência da Amazon no negócio eCommerce criou uma necessidade de garantir uma alta disponibilidade e um nível de qualidade e flexibilidade que não estava disponível. Isso os incentivou a criar a Amazon Web Services, que a introduziu no mundo corporativo com os mesmos princípios de experiência que pratica no varejo, agora em serviços de cloud computing.
A gigante Google também assumiu um posto de destaque simplesmente por conseguir criar um conjunto de serviços que vem se tornando essencial ao dia a dia de todo usuário de tecnologia e vem ganhando musculatura com a descontinuidade de alguns serviços secundários e uma preocupação maior com design. Quem não consome algum serviço do Google nos dias de hoje?
Em março deste ano (2013), tive a oportunidade de assistir a uma conferência da equipe de designers do Google no SXSW (South By Southwest) em Austin-USA. O tema era Princípios para Design do Futuro do Android.
Os princípios de design foram divididos em 3 grupos:
1 – Encante-me
2 – Simplifique minha vida
3 – Me faça sentir bem
Deixo aqui a referência para quem tiver curiosidade de se aprofundar, mas o interessante é a preocupação com a relação com o ser humano a partir de softwares. No terceiro e último grupo, o princípio que mais me chamou a atenção foi: A falha não é minha. Este princípio trata da preocupação da Google em não deixar o usuário com o sentimento de ter feito algo errado. Isso norteia, por exemplo, as mensagens de avisos e erros, para que não tenha o tom de bronca e afete negativamente a autoestima do usuário. Seja gentil, amenize ao máximo o sentimento negativo nas horas ruins. Lembrei-me imediatamente da mensagem clássica da Microsoft que dizia “Erro fatal: Você executou uma operação ilegal“. A verdade é que, de fato, a sensação de receber essa mensagem nunca foi agradável.
Como profissionais, sejam de TI ou não, temos sempre que nos preocupar, estar atentos com as experiências que nossos clientes, parceiros ou usuários têm em todos os momentos de contato com nossas marcas e produtos. Criar experiências negativas fatalmente os afastarão de nossos futuros e isso não nos interessa.
Agora, se conseguirmos acumular experiências positivas nos nossos relacionamentos, sempre teremos a fidelidade e apoio dos clientes. O que, talvez, nos leve a esse topo alcançado pelas empresas citadas acima.
Se você é um desenvolvedor isto irá nortear o desenho das interfaces, das mensagens aos usuários e da política de testes para evitar bugs. Se você é um analista de suporte, o trato com o cliente no clima de desespero e raiva é o momento de mostrar sua capacidade de criar boas experiências. Se você é um CIO, busque transmitir esta preocupação a todos da empresa e pratique isto com seus parceiros de negócios para criar a sinergia necessária ao seu crescimento.
Reflita e, nos seus próximos contatos e ações, busque sempre transformar tudo em experiências positivas e avalie os resultados futuros.