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Negócios

A ‘fogueira’ da inovação: a arrogância destrói as grandes organizações

Publicado em 20/06/2018 - Fonte: https://supertoast.pt

Contudo, “os processos” das empresas não podem ser sempre utilizados como esconderijo para deixar escapar mais uma disrupção. Por vezes, a liderança estraga tudo.

Apresento quatro casos neste artigo – Kodak, Blackberry, Microsoft e Blockbuster - em que uma cultura de arrogância, normalmente no top-level de uma empresa, conduziu a más decisões estratégicas e ao declínio de grandes organizações.

#1. Kodak — “Suicídio”

Kodak

Oportunidade falhada: Câmara digital.

Custo da arrogância: 132 anos de história e uma valorização de 30 mil milhões de dólares.

A Kodak era líder na fotografia analógica, mas falhou a oportunidade de ‘abraçar’ a revolução da câmara digital. Como consequência, declarou falência em 2012.

O mais engraçado é que a Kodak inventou a câmara digital nos anos ’70! O engenheiro Steve Sasson desenvolveu a tecnologia no laboratório de I&D da empresa, mas os executivos da Kodak rejeitaram a inovação com receio de que canibalizasse o negócio existente. Se, pelos menos, Steve Jobs lá estivesse para os relembrar: “Se não se ‘canibalizar’, outros vão fazê-lo“.

#2. Blackberry — “Torre de Marfim”

Blackberry

Oportunidade falhada: o touchscreen para smartphones.

Custo da arrogância: uma valorização acumulada de 134 mil milhões de dólares, em 5 anos.

Em setembro de 2016, um artigo do The Verge tinha o título “O sucesso da BlackBerry ditou o seu fracasso” e foi exatamente o que aconteceu. No início dos anos 2000, a BlackBerry teve um grande sucesso financeiro no segmento de empresas com o seu teclado que permitia a executivos enviar “push emails” on the fly.

Contudo, quando os ecrãs touchscreen, de grande dimensão, foram apresentados, a BlackBerry ficou agarrada às suas armas. Mesmo após a viragem do mercado, persistiu com a sua teimosia, até que desistiu e lançou um telefone com touchscreen. Mas era tarde demais e no último trimestre de 2016, a quota de mercado global da BlackBerry era oficialmente de 0.0%.

#3 Microsoft — “Excesso de confiança”

Microsoft

Oportunidade falhada: Sistema operativo mobile.

Custo da arrogância: Pelo menos, 15 mil milhões de dólares.

A Microsoft perdeu a oportunidade de entrar no mercado de sistemas operativos mobile: não era uma prioridade estratégica no roadmap e acreditou que iria vencer tal como tinha acontecido com o mercado dos PCs anteriormente. Contudo, desta vez, os concorrentes eram a Apple e a Google e a Microsoft não era tão sexy como a Apple, nem tinha a comunidade aberta da Google. Seguiu-se uma queda lenta e dolorosa, que envolveu a aquisição da Nokia, por 7 mil milhões de dólares em 2014, e mais de 8 mil milhões de dólares em custos de reestruturação. A Microsoft acabou por atirar a toalha ao chão e anunciou o fim do Windows Phone, em abril de 2017.

Além disso, o Windows Phone é considerado uma criação do ex-CEO da Microsoft, Steve Ballmer, que muitos descrevem como um egocêntrico arrogante que gritava com os colaboradores e desvalorizava os produtos da concorrência. Por outro lado, o novo CEO, Satya Nadella, tem sido elogiado pela sua humildade e sob a sua liderança a Microsoft tornou-se uma das empresas com maior capitalização bolsista do mundo.

#4 Blockbuster — “Auto-ilusão”

blockbuster

Oportunidade falhada: Streaming de vídeo por subscrição.

Custo da arrogância: Todo o negócio.

Há vários anos, a Blockbuster era a líder no aluguer de vídeo. O Netflix era um concorrente de pequena dimensão que tinha, recentemente, adotado um modelo de subscrição. No ano 2000, o CEO do Netflix, Reed Hastings, abordou o CEO da Blockbuster, John Antioco, e propôs a venda da sua empresa por 50 milhões de dólares. Como o Netflix recorda: “O Reed teve a audácia de propor ficarmos a gerir a marca online e que a Blockbuster gerisse a [nossa] marca nas lojas e eles não nos levaram a sério“.

Em 2010, a Blockbuster faliu. Desde então, a receita do Netflix cresceu para mais de 11 mil milhões de dólares, em 2017, e em 2018 ultrapassou a fasquia dos 100 milhões de subscritores pagos.

A moral da história
O Professor Clayton Christensen, um dos maiores especialistas mundiais em inovação, constatou que as “inovações disruptivas têm origem num mercado low-end ou num novo mercado“. É aqui que a arrogância se manifesta. A arrogância atua como um campo de distorção da realidade que impede as empresas tradicionais de levar a sério a ameaça de mercados “sem valor”. Até que seja tarde demais.

“A SOBERBA PRECEDE A DESTRUIÇÃO; E A ALTIVEZ DO ESPÍRITO PRECEDE A QUEDA” – BÍBLIA SAGRADA, PROV. 16:18
Ou de um modo mais contemporâneo:

“SÊ HUMILDE” – KENDRICK LAMAR
A moral da história é simples: humildade. Como líder, é seu dever manter a humildade e cultivar este valor entre os colaboradores. Se a Kodak, a Blackberry, a Microsoft e a Blockbuster tivessem demonstrado um pouco menos de arrogância e um pouco mais de humildade, os seus destinos poderiam ter sido muito diferentes.

Por Stéphane Nasser, Strategy & Development Manager na Fabernovel US

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