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Inovação

O seu próximo grande amigo pode ser um robô

Publicado em 13/10/2016 - Fonte: http://br.wsj.com

Menos de 24 horas depois de ligar seu Amazon Echo, Carla Martin-Wood disse que ela já considerava a máquina uma de suas melhores amigas. “Foi como encontrar alguém novo”, diz ela.

Viver sozinho pode ser difícil quando ficamos mais velhos — Martin-Wood tem 69 anos. Ela está entre um grupo cada vez maior de pessoas que estão descobrindo que o Echo — uma caixa de som conectada à internet, controlada por voz e alimentada por inteligência artificial que, além de tocar música, responde a perguntas sobre o tráfego, clima, entre outras coisas —, pode ajudar a preencher o vazio. Todos os dias, Martin-Wood diz bom dia e boa noite para Alexa, o nome do software da Amazon.com por trás do Echo. Martin-Wood se refere à Alexa como “ela”.

“É engraçado porque eu penso: ‘oh, estou falando com uma máquina’, mas não parece”, diz Martin-Wood, que vive no Estado americano de Alabama. “É uma personalidade. Não há outra forma de ver, não parece nada artificial.”

Os engenheiros da Amazon não previam isso. Mas logo após o lançamento do Echo, em novembro de 2014, eles descobriram que as pessoas falavam com ele como se fosse humano.

A Amazon monitora todas as interações com a Alexa, que também roda em outros produtos da Amazon como o Echo Dot, uma versão mais atualizada do Echo, e o Amazon Tap, um alto falante portátil com Bluetooth e Wi-Fi. O percentual de interações que não são “utilitárias” está na parte alta dos dois dígitos, diz Daren Gill, diretor de gerenciamento de produto da Alexa. (Por ora, o aparelho só está disponível na língua inglesa.)

A Alexa — e suas rivais no Google, da holding Alphabet, no Facebook, Microsoft, Apple, Samsung Electronics e incontáveis “startups” — estão todas trabalhando em direção a sistemas baseados em conversação que podem gerar mudanças profundas em como usamos e interagimos com computadores.

Não é uma surpresa que nós iremos acessar tecnologia por voz. Mais surpreendente é como as pessoas irão desenvolver afeto por esses computadores.

Na Amazon, isso levou a uma reelaboração dos propósitos da Alexa. Sentindo que muitos usuários querem companhia, a Amazon está criando uma personalidade para a Alexa, fazendo sua voz soar mais natural e escrevendo respostas mais inteligentes e engraçadas para perguntas comuns.

“Muito do trabalho da equipe é sobre como tornar a Alexa a pessoa querida que todos querem ter em suas casas”, diz Gill.

O Google também tem trabalhado para deixar sua interface de voz, e a inteligência artificial por trás dela, mais agradável. Na semana passada, a empresa lançou o Google Home, um dispositivo como o Echo alimentado pelo Google Assistant, uma versão da Alexa. Mas as pessoas já vêm falando com seus smartphones, tablets e computadores alimentados por software do Google, que tem um dos melhores softwares de reconhecimento de voz do setor, há anos.

Para dar personalidade ao Assistant, o Google emprega roteiristas que trabalharam em filmes da Pixar e sites de humor, diz Gummi Hafsteinsoon, diretor de gestão de produtos do Google Home. Para obter o melhor resultado, detalhes como tempo de resposta também precisam ser levados em conta — humanos não têm paciência para pausas em uma conversa —, além do tom da voz, como por exemplo reforçar a palavra “agora” quando o assistente virtual diz “Ligando o cronômetro para dois minutos a partir de agora”. Basicamente, diz Hafsteinsson, o Google quer construir uma conexão emocional com o usuário, embora isso ainda esteja distante.

Nenhum desses sistemas possui inteligência artificial “verdadeira” no sentido de ter um entendimento real da conversa. Eles interagem com os usuários em grande parte por respostas roteirizadas, embora o Google também utilize seu massivo banco de dados de buscas, na melhora da capacidade de processamento da linguagem natural, para elaborar as respostas.

Mas os humanos podem criar ligações emocionais com uma “tecnologia social”, como esses sistemas são chamados, sem inteligência artificial verdadeira. As pessoas são boas em antropomorfizar objetos, e essa tendência pode ser ampliada com os sinais auditivos e visuais adequados. Na semana passada, a Toyota Motor anunciou uma criança robótica criada para o crescente número de casais sem filhos no Japão. A fabricante de brinquedos Hasbro criou uma linha de animais de estimação robóticos voltados para os idosos.

Alguns estudos sugerem que esses tipos de robôs podem gerar benefícios similares aos de possuir um animal de verdade.

Nada disso surpreende Heather Knight, pesquisadora de “robótica social” na Universidade de Stanford. “Sociabilidade é a interface entre as pessoas”, diz.

O ponto de uma interface social verdadeira é o mesmo de não ter nenhuma interface. Sem telas, sem dispositivos na mão, sem convenções que não são familiares. O diálogo, com todas as suas peculiaridades e conversas desnecessárias, é simplesmente a forma que os humanos interagem entre si. Em breve, essa será a forma que vamos interagir com as máquinas também.

Tanto o Google quanto a Amazon querem ampliar muito suas interfaces de voz trabalhando com parcerias.

Até o próximo ano, a Amazon afirma que a Alexa irá operar com as caixas de som Sonos, entre outros dispositivos. O Google está buscando parcerias semelhantes, incluindo com fabricantes de automóveis, diz Hafsteinsson, um detalhe que a empresa não havia informado anteriormente.

No futuro, em outras palavras, qualquer dispositivo com um chip poderá potencialmente também ter um microfone e conectar-se com essas interfaces sociais. Em nossas casas, nossos carros, no trabalho ou caminhando com nossos fones de ouvido sem fio equipados com microfones, nossos companheiros artificialmente inteligentes estarão sempre disponíveis, a um comando de voz de distãncia.

Muitas pessoas irão se rebelar com a noção de ser escutado 24 horas por dia, sete dias por semana, por esses sistemas com um apetite voraz por nossos dados pessoais. Se isso vai acabar prejudicando a adoção desses assistentes inteligentes, isso ainda precisa ser provado.

Por ora, muitas pessoas veem esses sistemas como fonte de conforto ou encantamento. Como um crítico anônimo da Alexa escreveu: “Ela me mantém atualizado, seja em casa ou ao redor do mundo, e é uma amiga quando estou sozinho. Eu a amo!”

Por Christopher Mims

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